quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Com a fluidez daquilo que jamais termina


Aqueles artistas estavam procurando, nas tradições ocultistas, elementos anteriores ao Judeu-Cristianismo e ao classicismo grego, ou seja, métodos criativos e valores espirituais egípcios, persas, hindus e chineses. Buscavam seu ideal estético nas artes mais primitivas, na revelação "primordial" da beleza. Stéphane Mallarmé declarou que um poeta moderno deveria ir além de Homero, porque a decadência da poesia ocidental havia começado com ele. Quando o entrevistador lhe perguntou "Mas que poesia existiu antes de Homero?",Mallarmé respondeu: "Os Vedas!". No século XX, os escritores e artistas de vanguarda foram ainda mais longe: buscaram novas fontes de inspiração nas artes plásticas do Extremo Oriente e nas máscaras e estátuas africanas e oceânicas. O surrealismo de André Breton decretou a morte de toda a tradição estética ocidental. A exemplo dos outros surrealistas, como Eluard e Aragon, ele aderiu ao comunismo; da mesma forma que eles, procurou inspiração nos diversos impulsos do Inconsciente e também na alquimia e no hermetismo. René Daumal estudou Sânscrito como autodidata e descobriu a estética hindu; além disso,estava convencido de que, sob a orientação de Gurdjiev, o misterioso Mestre Caucasiano, havia descoberto uma tradição iniciatória há muito desaparecida no Ocidente.13 Em suma, desde Baudelaire a André Breton, a influência do oculto representou para a vanguarda literária e artística francesa um dos meios mais eficazes de crítica e rejeição aos valores culturais e religosos do Ocidente —sendo sua eficácia proveniente da suposta base histórica que se atribuía a esse fenômeno.
MIRCEA ELIADE

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Em suma, desde Baudelaire a André Breton, a influência do oculto representou para a vanguarda literária e artística francesa um dos meios mais eficazes de crítica e rejeição aos valores culturais e religosos do Ocidente —
  
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    A natureza é um templo onde vivos pilares
    Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
    O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
    Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

    Como ecos longos que à distância se matizam
    Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
    Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
    Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.
   
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    Com a fluidez daquilo que jamais termina,
    Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
    Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.

    Charles Baudelaire

(...)

TODAS AS ARTES DEPENDEM DA TELEPATIA ATÉ CERTO PONTO, MAS É A ESCRITA A QUE OFERECE A DESTILAÇÃO MAIS PURA.

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