sábado, 29 de junho de 2013

UMA CONVERSA COM OCTAVIO PAZ


 BETTY MILAN


Poeta e ensaísta, Octavio Paz foi Prêmio Nobel de Literatura em 1990. Nasceu no México em 1914 e passou a infância nos Estados Unidos com a família. De volta ao México, formou-se em direito e fez especialização em literatura. Lutou na Espanha, em 1937, ao lado dos republicanos, mas nunca abraçou o comunismo. De 1946 a 1951, viveu em Paris, onde se ligou a André Breton e frequentou o grupo surrealista, no qual encontrou o poeta Benjamin Peret, que viveu no Brasil e no México e foi seu tradutor para o francês. Além de escritor e tradutor, Octavio Paz foi diplomata. Demitiu-se do cargo de embaixador de seu país na Índia em protesto contra o massacre da Praça das Três Culturas (Tlatelolco, 1968), no qual morreram mais de cem estudantes mexicanos. Comentando sua morte em 1998, o escritor peruano Mario Vargas Llosa o qualificou como "a consciência viva de sua era". É conhecido no Brasil, sobretudo, por seus ensaios, como O arco e a lira, Signos em rotação, O labirinto da solidão entre outros.
À jornalista que perguntou a Octavio Paz se ele acaso não temia ficar colado à imagem que a notoriedade lhe dava, ele respondeu: "Não acredito nessas consagrações. A única consagração é um leitor capaz de dialogar com a gente. Não, eu não penso que esteja impressionado com os meus sucessos. A vida inteira as minhas opiniões foram minoritárias".
Precisamente por querer o diálogo ou o encontro, ele lançou um ensaio sobre o amor, A dupla chama, que não cessa de reenviar o leitor à sua própria experiência e de fazê-lo considerar, através desta, as diferentes ideias do texto.
Escrito para nos convencer do caráter historicamente subversivo do amor, que, contrariando a tradição ocidental, enobreceu o corpo, o livro é um ensaio de poeta. Por isso mesmo, a chama que ele acende não vai se apagar. "O amor é uma flor sangrenta e é também um talismã: a vulnerabilidade dos amantes os protege", escreve Octavio Paz. E quem poderá se esquecer do que ele diz da pessoa amada: "Terra a descobrir e casa natal".
Tendo em vista A dupla chama, fui ter com Paz no Hotel Lutetia onde, apesar da minha oposição inicial, ele deu a entrevista num salão repleto. As idas e vindas das pessoas em momento algum o molestaram, e eu, que temia não compreender o seu espanhol, logo fiquei à vontade. Só quando eu não ouvia ou não entendia, Octavio Paz passava do espanhol para o francês, a língua em que eu lhe fazia as perguntas, não por ele desconhecer o português, mas por conhecer menos o português do que o francês, a segunda língua dos escritores latino-americanos da sua geração.
Depois da entrevista, Paz me convidou para tomar um café. Contou-me, durante a conversa, que foi tradutor de Fernando Pessoa e falou com admiração de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira [1]. [BM]



BM O senhor diz na introdução ao livro A dupla chama que, antes de escrevê-lo, hesitou muito, mas não teve como não escrever este livro sobre o amor e fez isso com um "desespero alegre". Que relação o senhor estabelece entre a escrita e o amor?
OP Há uma relação íntima quando se trata de certo tipo de escrita – a escrita literária, a poesia ou o romance. Há muitas formas de escrever. Quando a gente quer expressar algo de muito profundo, escreve um poema ou um romance, procura assim objetivar a paixão. Em geral, a escrita nasce de uma vocação, a gente está condenada a escrever sobre certos temas. Você, que é escritora, sabe disso. Acontece a mesma coisa no amor, que começa com uma atração involuntária – a que a gente está destinada – e depois se converte, através do livre-arbítrio, numa forma de liberdade.
BM O senhor utilizou a palavra condenada. Em que medida existe um livre-arbítrio?
OP Trata-se de uma questão tão antiga quanto a filosofia. Não há resposta e as respostas que eu encontrei me parecem igualmente insatisfatórias. Há uma eterna relação entre a palavra "destino" e a palavra "liberdade". Os gregos viram isso muito bem. Para que o destino se realize, é necessário que ele conte com a cumplicidade dos homens. Para que Édipo [2] cumpra o seu trágico destino, ele tem que escolher voluntariamente, sem saber o que está fazendo, claro. Quero dizer que em cada ato humano há uma dose de determinismo, mas este não pode se realizar sem a liberdade, que, por sua vez, necessita do destino para se realizar. Podemos dizer que, se a liberdade é uma condição da necessidade, o inverso também é verdadeiro. Não há como considerar separadamente a palavra destino e a palavra liberdade. Os dois termos estão perpetuamente em luta; e um não vive sem o outro.
BM Agora que o senhor já escreveu o livro com um "desespero alegre", talvez seja possível me dizer por que escolheu o amor como tema.
OP Eu o escrevi com um "desespero alegre" porque o escrevi no final da minha vida. Mas o que importa é que eu o escrevi. Por que o fiz? Desde que comecei, quisera ser, quisera ter sido… a gente até começa a falar no passado… bem, quisera ter sido poeta. Os meus melhores poemas foram de amor. Às vezes foram poemas eróticos. O tema do amor é uma das minhas obsessões, um dos eixos em torno dos quais girou a minha vida pessoal e também a minha vida intelectual.
BM Sim, mas por que o senhor escreveu um ensaio?
OP Porque queria explicar o amor para mim mesmo. Quando comecei a escrever poemas, eu me disse que precisava escrever algum ensaio para justificar o ato aparentemente absurdo de escrever poemas. O mesmo ocorreu com o amor.
BM O senhor afirma que Platão [3] teria ficado escandalizado com o que nós chamamos amor. Seria possível comentar essa frase?
OP Para Platão, o amor não tinha o sentido que damos a ele e que surgiu na Idade Média com a poesia provençal. O amor, para Platão, era o erotismo, a ação de Eros, o deus da luz e da escuridão, o mensageiro, a força atuante. Platão concebia o amor como um desejo de beleza que terminava na contemplação das ideias eternas.Nele existe um gosto pelo sofrimento, pela tragédia – como em Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta [4] –, que teria escandalizado Platão. O amor também escandalizou os cristãos, pelo fato de se colocar numa criatura humana o que é próprio da divindade. Lope de Vega [5] diz que, no amor, a gente busca o eterno no que é perecível. O amor é uma blasfêmia para a Igreja; ele é subversivo diante da filosofia e da religião.
BM O senhor diz que o amor é uma aposta extravagante na liberdade, pois o livre-arbítrio transforma uma atração involuntária entre duas pessoas em união voluntária. Isso é bastante claro quando pensamos em Tristão e Isolda ou em Romeu e Julieta. Mas o romance História de O [6] não é uma aposta extravagante na servidão?
OP A questão é muito interessante. Mas O decide, porque ama René, que deseja se deixar escravizar. Os estoicos pensavam que só se pode afirmar a liberdade dentro dos limites do destino. Epicteto [7] dizia que o escravo tem a liberdade, pelo menos no seu interior, de dizer não. O mesmo ocorre com O, que é uma mulher livre e se vale da liberdade para se converter numa escrava.
BM Cabe perguntar se O teria podido dizer que não queria ser escrava ou, em outras palavras, se ela teria tido a possibilidade subjetiva de escolher a posição de quem não é escrava.
OP Sim, poderia ter recusado o amor. Falei algumas vezes com Paulhan sobre isso. No meu livro sobre Sade [8], eu desenvolvo a ideia. O livro se chama Um mais além erótico: Sade, e também acaba de sair pela Gallimard. Contém um poema e dois ensaios. A parte final trata da História de O. Creio que O escolhe a servidão porque está apaixonada. Todos os apaixonados, no fundo, seguem O, na medida em que todos aceitam a servidão. Na poesia provençal, que codificou o amor, se diz que o apaixonado é um vassalo e a amada é uma senhora. Mas o apaixonado decidiu se converter em vassalo, por estar apaixonado, ele não nasceu escravo. A origem de O se encontra na poesia provençal. Se O fosse somente masoquista, ela seguiria suas inclinações eróticas e ponto final, mas ela está apaixonada…
BM O senhor não acha que o amor implicaria uma revisão completa da noção de escolha?
OP Sim, porém o amor lança luz sobre a relação entre necessidade e liberdade, sobre o livre-arbítrio, o grande tema do teatro espanhol.
BM O amor move o sol e as estrelas, mas não se dissocia do ódio e pode se tornar mortífero. Por que o senhor só fala do amor como um bem?
OP Mencionam com freqência o caráter mortífero do amor. Possivelmente, eu falo dele, sobretudo como um bem por reação contra essa predileção do século XX, predileção pelos lados negros do amor. Trata-se também de uma reação contra a exaltação do Marquês de Sade… Mas eu penso que o ódio é inseparável do amor.
BM Existe mesmo o conceito de hainamoration, em Lacan [9].
OP O quê?
BM Hainamoration, um neologismo que junta o ódio (haine) e o amor (amour).
OP Os psicólogos dizem de modo mais ou menos pedante o que os poetas dizem de forma simples. Catulo [10] diz num poema famoso: "Amo e odeio ao mesmo tempo/ Por que?/ Não sei,/ mas eu disso padeço". É magnífico, em quatro versos, diz o que os psicólogos e os psicanalistas precisam de mil páginas para dizer.
BM (Risos) O senhor diz, no seu livro, que o amor é incompatível com a infidelidade. Isso significaria que a revolução erótica deste século [11] não mudou em nada a noção tradicional de infidelidade?
OP A revolução erótica nos trouxe uma ideia mais limpa do corpo… O amor não existe sem a liberdade feminina. Por isso, desde sempre, os grandes períodos do amor coincidiram com a liberdade da mulher ou com a sua rebelião. Afinal de contas, Isolda se rebelou, Julieta também…
BM Voltando à questão anterior, eu lhe pergunto se um simples encontro erótico é um ato de infidelidade.
OP Sim, em geral sim, porque o amor está fundado na união do corpo e do espírito. No passado, havia o problema da paternidade. Hoje, a infidelidade é menos grave, porque não interfere na procriação, mas o amor parte da decisão de que "iremos juntos até o final".
BM Será mesmo que a revolução erótica não implica que possa haver fidelidade do espírito e liberdade do corpo?
OP Parece complicado. As experiências dos que tentaram esse tipo de amizade amorosa não deram certo. É muito difícil evitar o sofrimento do companheiro. A infidelidade, em si mesma, poderia não ser grave, mas fere profundamente o outro. Isso, todos nós sabemos pela experiência.
BM Segundo o seu livro, o último grande movimento estético do século XX teria sido o surrealismo, e o movimento beat [14] foi uma derivação daquele. Seria possível explicar isso?
OP Toda a doutrina da beat generation parte da espontaneidade da escrita, que é uma ideia dos surrealistas.
BM Obrigada pela entrevista.
OP Você quer tomar um café?
BM Aceito.

O INOMINÁVEL



“E todas essas perguntas faço a mim mesmo. Não é por curiosidade. Não Posso calar-me. Não, nem tudo é claro. Mas o discurso tem de ser feito.”



“É o fim que é o pior, não, é o começo que é o pior, depois é o meio, mas depois é o fim que é o pior, essa voz que é cada instante, que é o pior… é preciso continuar ainda um pouco, é preciso continuar ainda muito tempo, é preciso continuar ainda sempre…”

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Blake e a busca por novos padrões de significado


William Blake não se tornou um herói do movimento radical estudantil de um passado recente por acaso. Profundamente impressionado com o ritmo de atividades irrefreáveis nas Revoluções Americana e Francesa, com todas suas consequências sociais, Blake aplicou princípios revolucionários em suas reflexões sobre o desenvolvimento dinâmico do indivíduo. Ele desejava derrubar todas as ''fundações '' religiosas e políticas; seus textos encorajavam cada um a procurar seus próprios valores espirituais e morais. Ele adotou uma posição anárquica, frente a frente com as posições ortodoxas do cristianismo contemporâneo e as noções tradicionais de bem e mal. Crenças racionais e científicas, que estavam sendo enunciadas na era do Iluminismo, foram invertidas por Blake em sua meditação sobre imagens internas que derivavam de emoções profundas e essenciais do homem, não de suas habilidades intelectuais ou técnicas adquiridas. Sobre isso, Blake antecipou o trabalho dos psícólogos contemporâneos, que reconhecem que todo evento externo é afetado pela pessoa que o experimenta e que seu emocional, bem como suas respostas cognitivas, são partes elementares do fenômeno que está sendo observado. Além disso, as imagens, em muitos dos livros de Blake, particularmente em suas últimas obras, mostravam identidade com seu tempo e lugar e adquiriram a qualidade universal de temas de contos e jóias mitológicas, que sempre reaparecem em lugares largamente distantes. Contraditoriamente, é apenas essa universalidade de tema e estilo que separa Blake como profeta do indivíduo; devido á sua indepêndencia das atitudes determinadas pela tradição contemporânea inglesa, ele foi atirado sobre suas próprias fontes para criar uma filosofia pessoal independente, que lhe daria o suporte necessário em sua busca por novos padrões de significado.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

FORÇA CRIADORA

 
No neoplatônico Plotino, a alma do mundo é a energia do intelecto. Plotino compara o UNO (o princípio criador primeiro) com a LUZ em geral, o intelecto com o SOL e a alma do mundo com a LUA. Outra comparação de Plotino é a do UNO com o PAI e do intelecto com o FILHO. O UNO,chamado URANO, é transcendente. O FILHO, como CRONOS, governa o mundo visível. A alma do mundo (chamada ZEUS) ,aparece como que subordinada a ele. O UNO ou 'ousia' de toda existência é denominada hipóstase por Plotino, assim como tbm as tres formas de emanação. Um ser em três hipóstases. Como observa Drews, essa étambém a fórmula da trindade cristã: DEUS-PAI, DEUS-FILHO e ESPÍRITO-SANTO, talcomo se estabeleceu nos concílios de Nicéia e Constantinopla. E observaremos ainda que certas seitas cristãs-primitivas atribuíam significação materna (alma do mundo, lua) ao ESPÍRITO SANTO. Em Plotino, a alma do mundo tem tendência á existência dividida e á divisibilidade, conditio sine qua non de toda mutação, criação e reprodução: trata-se de um ''TODO INFINITO DA VIDA'' e que também é todo energia; éum organismo vivente das idéias, que nele adquirem eficácia e realidade. O intelecto é seu gerador, seu PAI; o que é contemplado NELE, é desenvolvido no nível da sensibilidade. ''O que está unido no intelecto se desenvolve como LOGOS na alma do mundo, a preenche com vida e a embriaga, por assim dizer, com seu NÉCTAR''. O NÉCTAR, analogamente ao SOMA dos Vedas (a bebida da visão interna e da imortalidade) também é uma bebida de fecundidade e vida.
C.G.JUNG
 
 
Post Scriptum
 
São numerosas as tentativas tanto mitológicas como filosóficas que foram feitas ao longo da história do pensamento humano  para formular e  fazer patente a força criadora que o homem conhece como vivência subjetiva...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

EL SIGNO

 
 
El ser se muestra, pero en tanto que no deja de retraerse (pasado); lo Más y Menos que ser llega, pero en tanto que no cesa de retroceder, de posibilitarse (porvenir).[xvi] Lo que significa que el ser no sólo se muestra en el siendo, sino en algo que muestra su inevitable retroceso; y lo más y menos que ser, en algo que muestra su inagotable posibilidad. Ese algo, o la Cosa, es el Signo. Pues si es cierto que la ciencia o la técnica contienen ya una posibilidad de salvación, siguen siendo incapaces de desplegarla y deben dejar paso a lo Bello y al Arte que ora prolongan la técnica coronándola, como los griegos, ora la transmutan, la metamorfosean. Según Heidegger, el siendo técnico (la máquina) ya era más que un objeto, puesto que hacía que ascendiera el fondo; pero el siendo poético (la Cosa, el Signo) es más todavía, porque hace que advenga un mundo sin fondo.[xvii] En ese paso de la ciencia al arte, en esa reversión de la ciencia en arte, Heidegger recupera tal vez un problema familiar de finales del siglo XIX, con el que también nos topábamos de forma diferente en Renan, otro precursor bretón de Heidegger, en el neoimpresionismo, en el propio Jarry. Asimismo era el camino de Jarry cuando desarrollaba su curiosa tesis sobre la anarquía: en el hacer-desaparecer, la anarquía tan sólo puede funcionar técnicamente, con máquinas, mientras que Jarry prefiere el estadio estético del crimen, y sitúa a De Quincey por encima de Vaillant.[xviii] Más generalmente según Jarry, la máquina técnica hace surgir la líneas virtuales que juntan las componentes atómicas del siendo, mientras que el signo poético despliega todas las posibilidades o potencias de ser que, amalgamándose en su unidad original, constituyen la «cosa». Sabemos que Heidegger identificará está grandiosa naturaleza del signo con el Quadripartido, espejo del mundo, cuadratura del anillo, Cruz, Esfera o Cuadro.[xix] Pero ya Jarry desplegaba el gran Acto heráldico de los cuatro heraldos, con los blasonamientos como espejo y organización del mundo, Perhinderion, Cruz de Cristo o Cuadro de la Bicicleta original, que facilita el paso de la técnica a lo Poético,[xx] y que sólo le ha faltado a Heidegger reconocer en el juego del mundo y en los cuatro senderos. También era el caso del «bastón de física»: de máquina o aparato, se convierte en la cosa portadora del signo artista cuando forma una cruz consigo mismo «en cada cuarto de cada una de sus revoluciones».
El pensamiento de Jarry es ante todo teoría del Signo: el signo no designa, ni identifica, pero muestra... Es lo mismo que la cosa, pero no le es idéntica, la muestra. Todo estriba en saber cómo y por qué el signo comprendido de este modo es necesariamente lingüístico, o mejor dicho en qué condiciones es lenguaje.[xxi] La primera condición consiste en hacerse una concepción poética del lenguaje, y no técnica o científica. La ciencia supone la idea de una diversidad, torre de Babel de las lenguas en las que habría que poner orden captando sus relaciones virtuales. Pero, por el contrario, en principio consideramos sólo dos lenguas, como si fueran únicas en el mundo, una viva y la otra muerta, la segunda interviniendo en la primera, inspirando aglutinaciones de la segunda surgencias o resurgencias en la primera. Se diría que la lengua muerta hace anagramas en la viva. Heidegger se atiene con bastante exactitud al alemán y al griego (o al alto alemán): hace intervenir un griego antiguo o un alemán antiguo en el alemán actual, pero para obtener un nuevo alemán... La lengua antigua afecta a la actual, que produce bajo estas condiciones una lengua todavía por llegar: los tres éxtasis. El griego antiguo se ve metido en aglutinaciones del tipo «legô-yo digo» y «legô-yo cosecho, recojo», de modo que el alemán «sagen-decir» recrea «sagan-mostrar reuniendo». O bien la aglutinación «lethé-el olvido» y «alethés-lo verdadero» hará que intervenga en alemán el acoplamiento obesivo «velamiento-desvelamiento»: el ejemplo más célebre. O bien «chraô-cheir», casi bretón. O también el antiguo sajón «wuon» (residir) aglutinado con «freien» (preservar, librar) dará «bauen» (vivir en paz) a partir del significado corriente de «bauen» (construir). Parece en efecto que Jarry tampoco procedía de otro modo; pero él, a pesar de invocar a menudo la lengua griega como atestigua la Patafísica, más bien hacía intervenir en francés el latín, o el francés antiguo, o un argot ancestral, o tal vez el bretón, para alumbrar un francés del porvenir que hallaba en un simbolismo próximo a Mallarmé o a Villiers algo análogo a lo que Heidegger hallará en Hölderlin.[xxii] E, inyectado en la lengua francesa, «si vis pacem...» dará «civil», e «industria», «1, 2, 3»: contra la torre de Babel, dos lenguas solamente, de las cuales una actúa o interviene en la otra para producir la lengua del porvenir, Poesía por excelencia que se manifiesta brillante y singularmente en la descripción de las islas del doctor Faustroll con sus palabras-música y sus armonías-sonoras.[xxiii]
Hemos tenido noticia de que ni una etimología de Heidegger, ni siquiera Lethé y Alethés, era exacta.[xxiv] ¿Pero está bien planteado el problema? ¿No ha sido acaso repudiado de antemano todo criterio científico o etimológico en beneficio de una pura y mera Poesía? Se suele decir que se trata de meros juegos de palabras. ¿No resultaría contradictorio esperar una corrección lingüística cualquiera de un proyecto que se propone explícitamente superar el siendo científico y técnico hacia el siendo poético? No se trata de etimología propiamente dicha, sino de efectuar aglutinaciones en la otra lengua para obtener surgimientos en la-lengua. No es con la lingüística con lo que hay que comparar empresas como las de Heidegger o de Jarry, sino más bien con las empresas análogas de Roussel, Brisset o Wolfson. La diferencia estriba en lo siguiente: Wolfson mantiene la torre de Babel, y emplea todas las lenguas menos una para constituir la lengua del futuro en la que ésta desaparecerá; Roussel, por el contrario, sólo emplea una lengua, pero excavando en ella series homófonas como el equivalente de otra lengua que expresaría cosas totalmente distintas con sonidos parecidos; y Brisset utiliza una lengua para extraer elementos silábicos o fonéticos eventualmente presentes en otras lenguas, pero que significan lo mismo y que forman a su vez la lengua secreta del Origen o del Porvenir. Jarry y Heidegger tienen todavía otro recurso, puesto que actúan en principio en dos lenguas, haciendo intervenir en la lengua viva una muerta, de forma que transforma, que transmuta la viva. Si llamamos elemento a un abstracto capaz de recibir valores muy variables, diremos que un elemento lingüístico A afecta al elemento B de forma que resulte un elemento C. El afecto (A) produce en la lengua corriente (B) una especie de estancamiento, de balbuceo, de tamtam obsesivo, como una repetición que crearía sin cesar algo nuevo (C). Bajo el impulso del afecto, nuestra lengua se pone a revolotear, y forma una lengua del porvenir revoloteando: diríase una lengua extranjera, machacamiento eterno, pero que salta y brinca. Uno se estanca en la cuestión que revolotea, pero ese revoloteo es la avanzadilla de la lengua nueva. «¿Y eso es griego o lenguaje de los indios, tío Ubu?»[xxv] Entre uno y otro elemento, entre la lengua antigua y la actual afectada por ella, entre la actual y la nueva que se está formando, entre la nueva y la antigua, desfases, vacíos, huecos, pero llenados por visiones inmensas, escenas y paisajes insensatos, desplegamiento del mundo de Heidegger, retahíla de las islas del doctor Faustroll o cadena de grabados del «Ymaginero».
Así es la respuesta: la lengua no dispone de signos, pero los adquiere creándolos, cuando una lenguaI actúa en una lenguaII y acaba produciendo una lenguaIII, una lengua inaudita, casi extranjera. La primera inyecta, la segunda balbucea, la tercera da brincos. Entonces la lengua se ha tornado Signo, poesía, y ya no cabe distinguir entre lengua, habla o palabra. Y la lengua no está en situación de producir una lengua nueva en su seno sin que todo el lenguaje a su vez sea impulsado a un límite. El límite del lenguaje es la Cosa en su mutismo, la visión. La cosa es el límite del lenguaje, como el signo es la lengua de la cosa. Cuando la lengua se ahonda girando en la lengua, la lengua cumple por fin su misión, el Signo muestra la Cosa, y efectúa la potencia enésima del lenguaje, pues
 
«ninguna cosa haya, allá donde la palabra fracasa».[xxvi]
 
Gilles Deleuze

terça-feira, 25 de junho de 2013

O que é um vândalo?


Bill Buford conviveu com os hooligans por cerca de quatro anos. O resultado dessa experiência está no livro "Entre os Vândalos", texto que apresenta uma espécie de exercício de sociologia do comportamento.

 
(...)
Os Vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África ocupando a cidade de Cartago, antiga cidade fenícia que fora ocupada pelos romanos desde o fim das Guerras Púnicas.1 A localização de Cartago às margens do Mediterrâneo era estratégica para os Vândalos. Ali centralizaram seu Estado, e logo após se estabelecerem, saquearam Roma no ano de 455, destruindo muitas obras primas de arte que se perderam para sempre. 2

 

(...)
Trecho do livro ''Entre os Vândalos'':
Algum tempo atrás, voltei do País de Gales para casa de trem. A estação era a de um vilarejo nos arredores de Cardiff e cheguei cedo ao local. Comprei uma xícara de chá. Era uma noite fria de sábado e havia apenas outros três ou quatro passageiros na plataforma. Um homem lia um jornal, balançando-se para a frente e para trás apoiado nos pés. Em meio à nossa espera ouviu-se um aviso pelo alto-falante com respeito a um trem não programado. Pouco depois, outro aviso: o trem não programado estava prestes a chegar e todos deveriam colocar-se à distância de três metros do limite da plataforma. Era uma instrução inusitada, que levou o homem do jornal a erguer uma sobrancelha. Imaginei que talvez se tratasse de um trem militar. Alguns minutos depois, apareceram policiais, despontando das escadarias próximas.
O trem era um especial para dias de futebol e estava tomado por torcedores. Vinham de Liverpool e havia centenas deles - jamais eu vira um trem tão abarrotado de pessoas - cantando em uníssono: "Liverpool, la-la-la, Liverpool, la-la-la". A letra parece tola agora, mas não o pareceu então. Um minuto antes houvera um silêncio virtual: uma noite galesa de inverno, enevoada e sonolenta. E então aquela cantoria, disparada em crescente ferocidade, ressoando pelas paredes da estação. Um guarda fora ferido e, quando o trem parou, ele foi empurrado para fora, as mãos encobrindo o rosto. Alguém no interior do trem procurava arrebentar uma janela com uma perna de mesa, mas a janela não se quebrava. Um homem gordo, de rosto vermelho, tropeçou para fora de um dos vagões e seis policiais acorreram em sua direção, derrubaram-no ao chão e dobraram-lhe o braço violentamente às costas. A reação da polícia era exagerada - o trem estava tão abarrotado que o homem gordo havia pipocado para fora através de uma porta aberta -, mas os policiais estavam assustados. Eu também estava assustado (lembro-me de meus braços estupidamente cruzados à frente do peito), assim como todos os demais na plataforma. Era uma situação peculiar: estava numa estação ferroviária onde todos à minha volta falavam galês; eu estava ali para apanhar um trem; então, aquela súbita demonstração. Imaginei que ela se dirigia a nós, que aquele canto violento era uma forma de mostrar que eles, os torcedores, estavam em posição de fazer o que desejassem.
O trem partiu. Fez-se silêncio.
Cheguei em casa à uma e meia da manhã, e a região parecia consistir num extenso cordão policial. Na estação de Paddington, duzentos policiais aguardavam para acompanhar cada passageiro da plataforma até o metrô. Troquei quatro vezes de trem; três haviam sido ocupados por torcedores. Um deles estava em destroços: os assentos haviam sido rasgados, enquanto o bar, fechado de antemão, fora arrombado, sua porta metálica em pedaços, a bebida ao alcance de qualquer um que por ali passasse. Eu não sabia o que era mais espantoso, se o vandalismo, gratuito e implacável, ou o fato de que, com tantos policiais, ninguém parecia capaz de detê-lo: a coisa simplesmente prosseguia. Na esperança de evitar confusão, acomodei-me num assento de primeira classe, na parte mais dianteira de um vagão, defronte a um homem que havia pago por seu bilhete de primeira classe. Ele era esbelto e elegante, com um bigode fino, usava um terno de lã e sapatos lustrosos e caros: um tipo civilizado de camarada lendo um tipo civilizado de livro - um romance de capa dura com sobrecapa. Um torcedor o estava fitando havia um bom tempo. Um torcedor que estava embriagado. Vez por outra acendia um fósforo e atirava-o em direção aos reluzentes sapatos do homem civilizado, na esperança de atear-lhe fogo às calças. O homem civilizado ignorava-o, porém o torcedor, bufando irritado, persistia. Era uma imagem eloquente: um dos desprivilegiados, ignorando os códigos de conduta civilizados, pondo em chamas, displicentemente, um membro da classe mais privilegiada.
Era óbvio que a violência representava um protesto. Fazia sentido que assim o fosse: as partidas de futebol ofereciam uma válvula de escape para frustrações de natureza profunda. Muitos jovens estavam desempregados ou jamais haviam conseguido colocação alguma. A violência, por conseguinte, era uma espécie de rebelião - rebelião social, rebelião de classe, alguma coisa. Eu queria conhecer melhor aquilo. Já tinha lido sobre a violência e, até onde havia refletido sobre o assunto, presumia tratar-se de um fenômeno isolado ou misterioso, no sentido em que a violência das multidões é tida como misteriosa: imprevisível, espontânea, a turba. Minha viagem iniciada no País de Gales sugeriu que esta violência poderia ser mais proposital, mais voluntária. Ela proporcionava uma visão do sábado inglês, o dia das compras, diferente daquela que eu conhecera: a de que nos vilarejos e cidades você podia encontrar centenas de policiais, militares com todo o seu aparato, a postos para conter jovens do sexo masculino aficionados pelo esporte que, após comparecerem a uma competição esportiva, estavam determinados a quebrar ou destruir tudo aquilo que encontrassem pelo caminho. Era difícil de acreditar.
Contei a história de minha viagem a alguns amigos, mas fiquei espantado ao ver quão pouco eles se surpreendiam. Alguns agiam como que tomados de repulsa; outros achavam divertido; ninguém considerava aquilo extraordinário. Tratava-se de uma das coisas com as quais já se contava: que todos os sábados jovens rapazes arrasassem trens, quebrassem as janelas dos pubs, destruíssem carros ou promovessem depredações em centros urbanos. Não engoli aquilo, mas parecia ser assim. Na verdade, a única ocasião em que senti ter dito algo surpreendente foi quando revelei que, apesar de eu agora já ter visto uma multidão de torcedores de futebol, jamais presenciara uma partida de times ingleses. Isso sim, aparentemente, era estarrecedor.
Assim, expliquei-me: embora tivesse vindo à Inglaterra como estudante, em 1977, e permanecido no país, comparecera a uma única partida de futebol, e isso anos antes, quando me encontrava na Cidade do México: a seleção mexicana, que não era lá muito boa, enfrentava minha seleção natal, a equipe visitante dos Estados Unidos, que era terrível. Talvez houvesse umas duzentas pessoas assistindo. O México venceu por oito a zero. Nos subúrbios de Los Angeles, onde me criei, o soccer (como chamávamos o futebol) não era passatempo de rapazes.
Meus amigos estavam impressionados. Nunca ter comparecido a uma partida? Mostraram-se incrédulos. A implicação aparente era a de que por isso o comportamento dos torcedores me parecia tão extravagante e difícil de compreender.
Não são muitas as lembranças que tenho de minha ida aocampo do Tottenham Hotspur, em White Hart Lane, para onde dois amigos me levaram a fim de assistir à minha primeira partida inglesa de futebol, nas finais do campeonato de 1983. Não me lembro se algum gol foi marcado. Não me lembro do outro time. Lembro-me de que nos atrasamos e levamos vinte minutos de empurrões, agarramentos, apertões, gemidos, avanços lentos, esforços imensos e disputas corporais até que conseguíssemos finalmente garantir nosso lugar, a minúscula fatia de um degrau de concreto, esmagados entre uma porção de garotos - de que outra forma descrevê-los? - dez anos mais jovens do que eu e trinta quilos mais pesados, cuja paixão por se expressarem raramente ultrapassava a frase simples mas eficientemente direta (e repetida com frequência): "Seu filho da puta". Lembro-me da euforia que acompanhou o espetáculo do indivíduo abaixo de nós que, detectando uma precipitação na parte traseira do pescoço, voltou-se para trás e descobriu que estavam urinando nele do alto. Lembro-me também da inquietação que senti ao me dar conta de que os dois jovens próximos ao meu lado exibiam emblemas do National Front - um de meus amigos era indiano e o outro, um latino- -americano moreno. Os dois jovens e seus amigos começaram a gritar - "Fora, negrada!" -, o que era repetido num volume cada vez mais alto até ser interrompido por uma briga, por sua vez interrompida pelos policiais, cujo deslocamento até o local, entre empurrões, agarramentos, apertões, gemidos, avanços lentos, esforços imensos, disputas corporais e porretadas, foi inibido quando seus capacetes foram arrancados e atirados em direção ao gramado.
 

Anarquia não é vandalismo


''Presidência é completamente despreparada'', diz Movimento Passe Livre

 
Mayara Vivian, uma das líderes do Movimento Passe Livre, reclamou do que chamou de "falta de preparo" da Presidência e pediu "ações concretas". "Ela não passou nenhuma informação. Estamos sem nenhuma ação concreta. Vimos a Presidência completamente despreparada. Eles não sabem nem quanto custaria a tarifa zero."
 
Não só o diálogo com os movimentos sociais promovido ás pressas pelo Governo do PT é um farsa, como o anúncio dos pactos nacionais é uma piada de mau gosto com o Povo Brasileiro, o derradeiro suspiro de uma escória política corrupta e ilegítima encostada contra a parede: quem convoca o Poder Constituinte Originário é o Povo e a Insurreição, Sra. Dilma, e não o zoológico executivo e legislativo do país.
 
Com isso, o PT só está conseguindo escancarar para todo o país a verdadeira relação de demagogia e teatralidade populista que sempre manteve com o povo e o que sempre viu nele: uma maldita massa de manobra. 

O QUE É SER ANARQUISTA


 
O anarquismo não é uma doutrina rígida, com artigos de fé, tábuas da lei, com profetas, com excomunhões, processos de heresia e sanções. É antes um conjunto de doutrinas e princípios cujos postulados básicos são convergentes, e que está sempre aberto a novas contribuições. Estes postulados básicos formam um fundo comum que, no amplo universo das múltiplas e alternativas atividades libertárias, são o anarquismo propriamente dito.
O sentido de justiça e equidade, a revolta contra a exploração econômica do homem pelo homem e o combate ao Estado – com a consciência plena de que é a instituição que garante o regime de exploração e privilégio como fonte geradora de opressão e violência sobre o indivíduo e a coletividade – têm a liberdade como um dos mais altos valores humanos; liberdade e autonomia plenas a partir do indivíduo para a associação livre fundada na solidariedade e no apóio mútuo.
O anarquismo combate todas as formas de autoritarismo, combate todo o poder de coação, tudo o que restringe, limita, sufoca e asfixia o potencial criativo do ser humano.
Todo o ser humano tem a necessidade de desenvolver seu físico e sua mente em graus e formas indeterminadas; todo o ser humano tem o direito de satisfazer livremente essa necessidade de desenvolvimento; todos os seres humanos podem satisfazer essas necessidades por meio da cooperação e da vida associativa voluntariamente aceita. Cada indivíduo nasce com determinadas condições de desenvolvimento. Pelo fato de nascer com aquelas condições tem necessidades – em termos políticos, tem o direito – de se desenvolver livremente. Sejam quais forem suas condições, ele terá a tendência de se expandir integralmente. Ele terá o desejo de conhecer, saber, exercitar-se, gozar, sentir, pensar e agir com inteira liberdade. Esta necessidade é inerente ao próprio ser. Se o crescimento físico fosse limitado por qualquer meio artificial, tal fato seria qualificado de monstruoso. Também a limitação do desenvolvimento de sua sensibilidade, do seu desenvolvimento intelectual, moral e afetivo, anulando o seu potencial criativo seria lógico considerar-se uma monstruosidade. No capitalismo esse absurdo se dá em todas as instâncias da vida social e ninguém considera isso um absurdo, somente os anarquistas.
A descentralização, a autonomia e o federalismo são as vias pelas quais o anarquismo propõe a construção de uma nova sociedade. A descentralização máxima é o indivíduo. Da plena liberdade e autonomia individuais para a organização segundo os interesses e as necessidades, para as instâncias mais complexas até a completa malha social, os princípios não se alteram. Começando pelo indivíduo como unidade celular da sociedade até o mais amplo tecido social, o princípio da autonomia está presente. Os interesses comuns de diferentes níveis e setores – profissionais, de produção de bens, planejamento, geográficos[1], etc. – resolvem-se pelas federações que as necessidades práticas indicarão. A união de interesses com objetivos comuns, sem quebra de autonomia, é a característica básica do federalismo. Assim, as uniões locais de organizam em nacionais até confederações internacionais.
Em todos os atos, ante todos os fatos, o ser humano analisa, estima, aceita ou repudia o que se dá, o que acontece, formulando um juízo de valor. O tema é vastíssimo e seu estudo pertence à ontologia[2]. Apenas alguns conceitos para nos situarmos enquanto anarquistas. As vias de nosso conhecimento são a sensibilidade, a intelectualidade e a afetividade. Temos portanto uma intuição sensível, uma intuição intelectual e uma intuição páthica (do grego afeto, paixão). Há uma interatuação entre elas. Podemos racionalizar um sentimento de simpatia ou de antipatia[3], como podemos, através de uma dedução lógica, provocar a nossa santa fúria.
Quase todos colocam os valores numa escala hierárquica: uns num grau mais elevado que outros[4]. O filósofo alemão MAX SCHELER (1874-1928) apresenta a seguinte ordem, que não é aceita por todos:
Valores religiosos (santo e profano)
Valores éticos (justo e injusto)
Valores estéticos (belo e feio)
Valores lógicos (verdade e falsidade)
Valores vitais (forte e fraco)
Valores utilitários (conveniente e inconveniente)
Há variáveis, na subordinação dos valores, que se refletem de pessoa para pessoa ou até na mesma pessoa conforme o momento, mas sempre, na maioria das circunstâncias que a vida oferece, um prevalece sobre os outros[5]. Para o anarquista todos os valores se subordinam aos valores éticos, porque todos os atos humanos são passíveis de juízo ético.
O que é ser anarquista? Ser anarquista é antes de tudo uma atitude ética. Ante a iniqüidade, um ímpeto de justiça leva o anarquista a romper racional e afetivamente com o sistema vigente. Romper com a autoridade é afirmar a própria independência humana. Ser anarquista é procurar realizar no quotidiano a plenitude do ato humano, e o ato humano só o é quando livre, fundado na vontade, no conhecimento dos fins e no poder de realizá-lo. Contra toda a desmoralização do ato humano, a luta anarquista não tem limites. Ser anarquista não tem limite. Ser anarquista é lutar pela liberdade de todos, tendo a consciência de que a liberdade dos outros aumenta a minha própria e não a limita.
As paixões humanas [6] sempre foram objeto de estudo dos anarquistas. Apenas para ilustrar, vamos citar as teses apresentadas no 2°. Certâmen Socialista, realizado no dia 10 de novembro de 1889 no palácio de Belas Artes de Barcelona.
Proposta do Círculo Operário de Barcelona: "Suponho uma sociedade verdadeiramente livre ou anarquista e sendo a instrução elevada ao grau máximo concebível, podem ser causas de desarmonia social as chamadas paixões humanas?" Foram apresentados seis trabalhos escritos sobre tal questão. No primeiro, apresentado por Teobaldo Nieva, é destacado o papel das paixões no desenvolvimento físico e mental da humanidade e como as religiões, as correntes filosóficas, os poderes político e econômico têm sufocado esta energia criadora. O autor se estende na crítica às religiões, a todas as formas autoritárias e repressivas e conclui que, apesar de tudo, elas continuam a ser a seiva vivificante da vida. As paixões são definidas e, ao contrário dos pecados capitais que são sete (orgulho, avareza, luxúria, etc.), as paixões são infinitas: o amor sexual, a paixão pelo belo, pela arte, pelo bem comum, etc. E, na sua essência, as paixões são benéficas, libertam.
 
Jaime Cobero( 1926- 1998
 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

La TAZ (Zona Temporalmente Autónoma) en la Historia Argentina

 
 
(Juan Manuel Garayalde)
Llegados a este punto, nos preguntamos: ¿puede hallarse un ejemplo de la TAZ en nuestra historia argentina? ¿Pudo haber hallado H.B. un ejemplo para aportar a su trabajo?. La respuesta es afirmativa, y ello lo encontramos nada mas y nada menos, que en nuestra obra cumbre de la literatura argentina: El Martín Fierro.

Esta obra, cuyo protagonista es una creación del autor, representa la confrontación entre la "Civilización" y la "Barbarie", y forzando un poco los términos, entre la Modernidad y la Tradición. El tiempo en que se desarrolla este poema guachesco es durante el período de la organización nacional, entendido este como la adaptación de un país de carácter católico, libre y guerrero, al sistema constitucional liberal, laico, de desacralización del poder político en post de las ideologías que apuntalaron, reforzaron a la Modernidad.Martín Fierro es el arquetipo de la "Barbarie"; el Hombre que no acepta una "Civilización" ajena a su cultura, que quiere obligarle a adoptar una nueva forma de vida, a riesgo de perderla si no obedece. Por tal motivo, Martín Fierro huye más allá de la frontera sur, a vivir con los indios. Leemos en esta obra:

"Yo sé que los caciques
amparan a los cristianos,
y que los tratan de "hermanos"
Cuando se van por su gusto
A que andar pasando sustos ...
Alcemos el poncho y vamos".
La Frontera, las tolderías, son la TAZ que supo existir en la Argentina. Allí, los hombres que estaban fuera de la ley, encontraron la libertad: fueron quienes desertaban del nuevo ejército constitucional, ladrones de ganado, asesinos, esclavos, muchachos jóvenes que huían de sus casas optando por la libertad que se vivía mas allá de la frontera. También existieron ejemplos de mujeres que cautivas de los indios, tuvieron familia, y que al regresar a la civilización, no pudieron acostumbrarse y regresaron con los indios. Martín Fierro nos describe la vida libre, hasta holgazana de vivir con los indios:
"Allá no hay que trabajar
Vive uno como un señor
De cuando en cuando un malón
Y si de él sale con vida
Lo pasa echado panza arriba
Mirando dar güelta el sol."
Lo cierto es, que no existía mucha diferencia entre la toldería y el medio rural. La diferencia comenzó a ampliarse a medida que crecían las leyes y la coerción y se perdía la libertad que el gaucho conocía. La frontera pasa a convertirse no solo en una válvula de escape para las tensiones sociales, sino también, para las existenciales.
Pero del arquetipo, pasemos también a un ejemplo concreto, a un hombre que la literatura retrató varias veces en novelas, cuentos y obras de teatro, a lo que se le sumará muchos relatos acerca del lugar que utilizó para escapar de la "civilización". Este hombre que hemos elegido al azar, se llamó Cervando Cardozo, conocido como Calandria por su hermosa voz para el canto. Fue un gaucho que nació en 1839 y fallece -muerto por la policía- en 1879. Tuvo una vida como cualquiera de su tiempo, pero a diferencia que decidió luchar cuando la institucionalización política del país comenzó a querer robarle su libertad. Él se incorpora a la última montonera de la historia nacional, la comandada por el caudillo entrerriano Ricardo López Jordán, al que la historia oficial, lo acusa de haber participado en asesinar al caudillo Justo J. de Urquiza, quién para entonces, era el principal responsable de las transformaciones políticas del país. Calandria peleará junto a López Jordán, y al ser derrotado su levantamiento, es obligado a incorporarse a un ejército de frontera. Calandria no acepta, y deserta. Nace así su vida de matrero, que la vivirá dentro de la provincia de Entre Ríos en la denominada Selva de Montiel, donde las fuerzas policiales jamás podrían capturarlo.
Aquí nos adentramos a una nueva TAZ: el monte. En muchas tradiciones, los bosques representan lugares prohibidos, donde abundan espíritus, criaturas fantásticas, y en donde se corría peligro de hallar una muerte horrenda. Uno de los ejemplos mas conocidos por todos, son los bosques de Sherwood donde encontraron refugio varios "fuera de la ley" que luego seguirían al famoso Roobin Hood.
En nuestra tierra, los montes representaban el lugar donde los gauchos matreros se escondían, donde hechiceros, curanderos, brujas, opas y deformes tenían su guarida. Es también el sitio donde los aquelarres se realizaban, que bien expresados están en nuestras canciones populares; por ejemplo en La Salamanca de Arturo Dávalos, dice su estribillo: "Y en las noches de luna se puede sentir, / a Mandinga y los diablos cantar", o Bailarín de los Montes de Peteco Carabajal, en su estribillo también dice: "Soy bailarín de los montes / nacido en la Salamanca".
Aquí haremos una breve profundización de este tema de La Salamanca: originalmente, la leyenda parte de España, de la región de Salamanca. Allí, se encontraban las famosas cuevas donde alquimistas, magos, kabbalistas, gnósticos, y otros, se reunían en secreto para eludir las persecuciones de la Inquisición. Como allí se efectuaban todo tipo de enseñanzas de carácter iniciático, quedo una leyenda negativa impulsada desde el clero católico de la época, donde allí se invocaba al demonio; y es por eso, que todo el proceso del que ingresa a la Salamanca hasta llegar frente al Diablo, es de carácter iniciático .. pero, hacia lo inferior. Es por eso, que se dice, que en la actualidad, hay dos entradas a la Salamanca con resultados diferentes, uno de ascenso y otro de descenso. La Salamanca, es para la TAZ argentina, el modelo de iniciación, en tanto se logre hallar "la otra puerta".
Retomando, la Selva de Montiel (llamada así, por lo impenetrable de la misma) fue el refugio de muchos, como Calandria, que se resistieron al cambio, a perder su libertad y apego a la tradición a causa – como dice un motivo popular entrerriano – de la reja del arado, de la división de la tierra y del alambrado. Estos matreros conservaron en pequeña escala parte de la figura que representaron en otro momento los Caudillos, puesto que tenían un respeto y comprensión hacia los pobladores, y estos terminaban siendo cómplices silenciosos de las aventuras de estos outsiders.
Cito aquí, un párrafo de la obra de teatro "Calandria" de Martiniano Leguizamón, estrenada en 1896. En este fragmento que leeré, habla el gaucho matrero frente a la tumba de su Madre:
"¡Triste destino el mío! .... ¡Sin un rancho, sin familia, sin un día de reposo! ... ¡Tendré al fin que entregarme vensido a mis perseguidores! ... Y ¿pa qué? ¿Por salvar el número uno? ... ¿Por el placer de vivir? ... ¡No, si la libertad que me ofrecen no had ser más que una carnada! No; no agarro. ¡Qué me van a perdonar las mil diabluras que le he jugao a la polesía! ¡Me he reído tanto de ella y la he burlao tan fiero! ... (Riendo) ¡La verdá que esto es como dice el refrán: andar el mundo al revés, el sorro corriendo al perro y el ladrón detrás del jues! ... ¡Bah ... si el que no nació pa el cielo al ñudo mira pa arriba!" (4)
Calandria no fue el único de estos gauchos matreros. Nuestro Atahualpa Yupanqui fue un gaucho matrero en los años ´30. Luego de una fallida revolución radical en la que participó, huyo a Entre Ríos y se ocultó en la Selva de Montiel. Fue en esa época que compuso la canción "Sin caballo y en Montiel".
Pero avancemos más en esta construcción de la TAZ en nuestra tierra. Si el gaucho matrero es una representación, en pequeña escala, del Caudillo, ¿dónde podemos hallar una figura de tal magnitud que cuadre con el modelo del anarquismo ontológico?. Podremos hallar verdaderas sorpresas en nuestra historia nacional. Una de ellas, es la del joven Juan Facundo Quiroga, el "Tigre de los Llanos", que por las descripciones que se hicieron sobre su persona, nos atrevemos a decir que fue uno de los primeros líderes anarcas que hubo en nuestra historia nacional.
Sarmiento, que conoció a Quiroga en su etapa juvenil -no ya la adulta donde se comenzaría a preocuparse por la forma organizativa que debía lograrse con la Confederación Argentina-, en su "Facundo", entre el odio y la admiración escribe estas palabras sobre Quiroga:
"Toda la vida publica de Quiroga me parece resumida en estos datos. Veo en ellos el hombre grande, el hombre genio a su pesar, sin saberlo él, el César, el Tamerlán, el Mahoma. Ha nacido así, y no es culpa suya; se abajará en las escalas sociales para mandar, para dominar, para combatir el poder de la ciudad, la partida de la policía. Si le ofrecen una plaza en los ejércitos la desdeñará, porque no tiene paciencia para aguardar los ascensos, porque hay mucha sujeción, muchas trabas puestas a la independencia individual, hay generales que pesan sobre él, hay una casaca que oprime el cuerpo y una táctica que regla los pasos ¡todo es insufrible!. La vida de a caballo, la vida de peligros y emociones fuertes han acerado su espíritu y endurecido su corazón; tiene odio invencible, instintivo, contra las leyes que lo han perseguido, contra los jueces que lo han condenado, contra toda esa sociedad y esa organización de que se ha sustraído desde la infancia y que lo mira con prevención y menosprecio. (...) Facundo es un tipo de barbarie primitiva; no conoció sujeción de ningún género; su cólera era la de las fieras ..." (5)Y como todo anarca, Quiroga no era de los hombres que querían sentarse en un escritorio a gobernar lo que mucho le había costado conseguir. Sus batallas nunca finalizaron. Citamos nuevamente a Sarmiento:
"Quiroga, en su larga carrera, jamás se ha encargado del gobierno organizado, que abandonaba siempre a otros. Momento grande y espectable para los pueblos es siempre aquel en que una mano vigorosa se apodera de sus destinos. Las instituciones se afirman o ceden su lugar a otras nuevas más fecundas en resultados, o más confortables con las ideas que predominan. (...)
"No así cuando predomina una fuerza extraña a la civilización, cuando Atila se apodera de Roma, o Tamerlán recorre las llanuras asiáticas; los escombros quedan, pero en vano iría después a removerlos la mano de la filosofía para buscar debajo de ellos las plantas vigorosas que nacieran con el abono nutritivo de la sangre humana. Facundo, genio bárbaro, se apodera de su país; las tradiciones de gobierno desaparecen, las formas se degradan, las leyes son un juguete en manos torpes; y en medio de esta destrucción efectuada por las pisadas de los caballos, nada se sustituye, nada se establece". (6)Aquí se ven con claridad los conceptos de H.B. de psiquismo nómade y de un retorno al paleolítico.

Post Scriptum
 
 

domingo, 23 de junho de 2013

REDE GLOBO: sua consciência política não é privada... é pública!

 
O hábito de Roberto Marinho de nomear ministros da Fazenda parece não ter começado no governo Collor. A impressionante descrição, feita pelo ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega em entrevista recente, a respeito do epísódio de sua nomeação, em substituição á Bresser Pereira m 1988, é indicativa do grau de poder ao qual acostumou-se o proprietário da maior rede de TV do país. Maílson era o secretário-geral do ministério á época de Bresser e estava ocupando interinamente o cargo até que Sarney nomeasse o substituto. Durante a interinidade, Maílson impressionou positivamente Sarney, segundo conta, por causa de uma entrevista concedida ao tele-jornal noturno da Globo. ‘’Conversei umas seis horas com o Presidente Sarney’’, relata Maílson ‘Ele me convidou (para assumir o ministério), mas disse que nada poderia ser anunciado ainda, porque ‘’precisava ‘APARAR ALGUMAS ARESTAS’ (...) A aresta era o Doutor Roberto Marinho, que tinha outro candidato para o cargo, o Camilo Calazans (...) No dia 05 de janeiro (1988) o presidente Sarney me telefonou perguntando, continua Maílson: "O senhor vê algum problema em ‘’TROCAR UMAS IDÉIAS’’ com o Doutor Roberto Marinho?’’. Respondi: ‘De jeito nenhum. Sou um admirador dele. Até me honra tal oportunidade (...)A Globo tinha um escritório em Brasília, no Setor Comercial Sul. Fui lá e fiquei mais de duas horas com o Doutor Roberto Marinho. Ele me perguntou sobre tudo. Parecia que eu estava sendo sabatinado. Terminada a conversa, falou: ‘’Gostei muito, estou impressionado com o senhor’’. Continua Maílson: ‘’De volta ao Ministério, entro no gabinete e aparece a secretária, que diz: ‘’PARABÉNS, O SENHOR É O NOVO MINISTRO DA FAZENDA(!!)’’ ‘’Perguntei a ela: ‘’Como assim?’’. E ela: ‘’acabou de dar no PLANTÃO DA GLOBO’’.. Perguntado sobre quanto tempo se havia passado entre a conversa com o ‘’DOUTOR ROBERTO’’ e sua chegada ao ministério, quando soubera da notícia televisiva de sua nomeação, Maílson respondeu: ‘Sei lá, uns 10 minutos’’ .
BRASIL DE FERNANDO Á FERNANDO
(Neoliberalismo, corrupção e protesto na política brasileira de 1989 á 1994),
ALBERTO TOSI RODRIGUES