terça-feira, 9 de julho de 2013

''Verdade proposta como alusão'


Esta polivalência do mito aponta para a busca, já no século II, de uma verdade desconhecida. Ou melhor, de uma verdade que estaria proposta como alusão, como alegoria; esta verdade se identifica com o não-dito, ou com o dito de modo obscuro e que deverá ser compreendido para além da mera aparência. Este saber misterioso revela um universo espelhado, onde, cada coisa, reflete e significa todas as outras. Por tal, definir, por exemplo, Deus de modo unívoco é totalmente impossível, pois a linguagem humana é inadequada para isso. Para o Hermetismo, a linguagem, ambígüa e polivalente, simbólica e metafórica, será a única capaz de revelar uma coincidência de opostos e uma não-identidade. Por conseguinte a interpretação será infinita, ou seja, na tentativa de buscar um sentido último e inatingível, instaura-se uma polifonia de sentidos.

Humberto Eco

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