domingo, 11 de agosto de 2013

INTELECTO PURO

 

Visão direta das coisas em sua luz verdadeira sem passar pela intermediação do mental (manas). O intelecto puro, capaz da chamada "intuição intelectual" ou "inspiração" é um órgão por assim dizê-lo de um nível supra-humano, "posto que é uma participação direta da inteligência universal", segundo René Guénon.

A
intuição intelectual tem, portanto, por eixo à intuição enquanto captação direta da Luz inteligível durante sua descida ao plano supra-individual, não ao plano da faculdade reflexiva do ser. Graças à intuição, segundo Ibn Arabi, "deixa-se de fazer raciocínios e compreende-se pela luz da intuição" (Tratado da Unidade)
 
René Guénon: INTRODUÇÃO GERAL AO ESTUDO DAS DOUTRINAS HINDUS
As verdades metafísicas não podem ser concebidas a não ser por uma faculdade que já não é da ordem individual e que o caráter imediato de sua operação permite chamar de intuitiva; mas, certamente, na condição de acrescentar que ela não tem absolutamente nada a ver com o que certos filósofos contemporâneos chamam de intuição, faculdade puramente sensitiva e vital que está propriamente debaixo a razão e não por cima dela é preciso dizer, para uma maior precisão, que a faculdade de que falamos aqui é a intuição intelectual.

Esta percepção direta da verdade, esta intuição intelectual e supra-racional da qual os modernos parecem ter perdido até a simples noção, é verdadeiramente o
conhecimento do coração. Tal conhecimento é em si mesmo incomunicável, e é preciso havê-lo realizado, pelo menos em certa medida, para saber o que é verdadeiramente (...) (todo conhecimento particular) é uma participação mais ou menos distante do conhecimento por excelência, assim como a luz da lua só é um pálido reflexo da do sol (...) o conhecimento do coração é a percepção direta da luz inteligível, essa luz do Verbo de que fala São João no começo de seu Evangelho.

Frithjof Schuon: O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
Sempre em conexão com a inteligência, precisamos focalizar ainda uma outra quaternidade, cujos elementos constitutivos são para as quatro qualidades descritas o que as regiões intermediárias são para os pontos cardeais. Esses elementos são, por um lado, a razão e a intuição e, por outro, a imaginação e a memória, o que corresponde aos eixos norte-sul e leste-oeste. A razão não gera a intelecção, mas a coesão, a interpretação, a ordem, a conclusão. A intuição, que é o seu oposto complementar, gera a percepção imediata, embora velada e mais frequentemente aproximativa, sempre no plano dos fenômenos externos ou internos, pois trata-se, aqui, do mental e não do puro Intelecto. Quanto à imaginação e à memória, a primeira é prospectiva e gera a invenção, a criação, a produção a um grau qualquer; a segunda, pelo contrário, é retrospectiva e gera a conservação, o enraizamento, a continuidade empírica. Poderíamos acrescentar aqui que a qualidade da razão é a justiça, que é objetiva; a da imaginação é a vigilância, que é prospectiva; e a da memória é a gratidão, que é retrospectiva.

François Chenique: SARÇA ARDENTE
Vimos que o conhecimento metafísico, que consideramos com São Boaventura como sendo de ordem sobrenatural1, se efetua por um "poder" de ordem supra-humano que é o intelecto, e isto em uma "iluminação"2 que alcança uma "intuição intelectual".

Quem diz "intuição" diz
conhecimento imediato, logo sem intermediário e forçosamente infalível. Em sua ordem o conhecimento intelectual é análogo à sensação que se opera também sem intermediário. O intelecto percebe na ordem do conhecimento metafísico, e, como todos conhecimento, o conhecimento metafísico comporta a "identificação" do sujeito e do objeto. Aristóteles diz no Livro De Anima que a "alma é em um sentido todas as coisas", pois "o ato do sensível e aquele do sentindo são um só e mesmo ato". Na sensação, "sensível" e "sentindo" têm um ato comum "subjetivado" no último; na intelecção, o intelecto e o inteligível se unem em uma identificação muito mais profunda dos dois termos. Tomas de Aquino retomou a doutrina de Aristóteles e a precisou pelos diversos "graus de identificação" que variam segundo a natureza dos seres conhecentes. A doutrina da Escola se resume no adágio célebre: "Intellectus in actu est intellectum in actu (intelecto em ato é o inteligível em ato) (I Sentenças). No conhecimento perfeito, Conhecimento, Conhecedor e Conhecido nada mais são que um só.

Falamos de "intuição intelectual". Em
realidade a intuição verdadeira é sempre de ordem intelectual, mas o abuso do qual esta palavra foi objeto exige que lhe adjunte um qualificativo.

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