sábado, 16 de novembro de 2013

O Longo Adeus, de Raymond Chandler

 

Feche os olhos e pense em um investigador particular. Pensou? Provavelmente o que veio na sua mente foi um sujeito relativamente cínico, de atitudes violentas quando necessárias, senso de humor corrosivo e cujo visual assemelha-se muito ao da imagem acima:
 
Isso não acontece à toa. Muito do que existe em livros e filmes noir teve fortíssima influência de Raymond Chandler (1888-1959), que nos tempos do pós-Guerra e pós-Depressão escreveu várias histórias com um personagem que viraria modelo de investigador particular, Philip Marlowe. E é lendo obras como O Longo Adeus (publicada originalmente em 1954) que dá para ter uma ideia de porque o personagem ficou tão famoso e imitado.
 
Mais do que o personagem, a estrutura que combina determinados elementos, que se verá com frequência em romances policiais, mesmo quando eles já não se enquadrem no gênero noir especificamente. Um exemplo é Coração Satânico, cujo protagonista Harry Angel parece quase um clone de Philip Marlowe. Aquelas situações em que não se pode confiar em ninguém são constantes em diversos filmes e livros que envolvem investigação, e talvez muito disto se deva a Raymond Chandler, pelas histórias que criou.
 
Em O Longo Adeus Philip Marlowe ajuda um amigo (Terry Lennox) a chegar até Tijuana, com a condição que esse não conte do que está fugindo. Quando volta para casa Marlowe descobre que Lennox estava sendo procurado por ser o principal suspeito de um homicídio. Marlowe é preso como cúmplice, e só é solto quando Lennox é encontrado morto com uma carta de confissão.
 
A partir daí a trama começa a ser desenvolvida como uma complicada teia de aranha. Novos elementos vão aparecendo, personagens que parecem não ter nada a ver com o caso Lennox depois se mostrarão fundamentais. É como se mostrasse a regra básica do romance noir: nada é o que parece ser. Nisso inclua o trabalho de detetive em si, questionando pessoas em bares e outros lugares – é de fato muito eletrizante acompanhar o fio das histórias, é como se o leitor recebesse aos poucos as peças do quebra-cabeça que ele mesmo irá montar.
 
Mas o brilho da narrativa, nos livros de Chandler, fica mesmo por conta de Philip Marlowe, sem dúvida um dos melhores personagens da literatura norte-americana de todos os tempos. Divertido. sem ser palhaço. Durão, sem ser tosco. E ligeiramente sentimental, sem ser um fraco. São em pequenas passagens que aparentemente nada tem a ver com a trama principal que você descobre mais sobre natureza de Marlowe. Como por exemplo:
 

 Na manhã seguinte, levantei tarde por conta dos altos honorários que ganhara na noite anterior. Bebi uma xícara extra de café, fumei um cigarro extra, comi uma fatia extra de bacon e pela trezentésima vez jurei que nunca mais usaria o barbeador elétrico. Tudo isso torna o dia normal.

E:
Os franceses tem uma expressão para isso. Os desgraçados dos franceses tem uma frase para tudo e estão sempre com a razão.
Dizer adeus é morrer um pouco.

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